Scratch your own itch: trabalhar com tecnologia é resolver problemas reais
Interview published on MasterTech
É inevitável pensar que todas as indústrias serão dominadas por tecnologia. Esse processo já começou faz muito tempo e só se confirma com o passar dos anos. Existem medos reais de que os postos de trabalho sejam substituídos por tecnologia e mesmo assim continuamos produzindo tecnologia. E isso é ótimo, o problema está no formato em que isso tem sido feito.
Empresas ligadas a tecnologia nascem todos os dias ao redor do mundo, mas poucas delas são fundamentalmente tecnológicas. Poucas se constroem com base naquilo que produzem, ou seja, criam novos modelos de trabalho de acordo com as possibilidades que a tecnologia proporciona, oferecendo soluções para problemas próprios e reais.
Isso ficou mais claro para mim em uma conversa com o Michell Zappa, fundador da Envisioning. Há quase 10 anos no ramo, Zappa me contou que se sentiu seduzido por tecnologia após palestrar sobre o assunto em 2008, na Update or Die. A Envisioning é um exemplo de empresa nascida e criada para entender tecnologia, que tem surpreendido com previsões e insights sobre o setor.
O que é a Envisioning e como ela funciona
A Envisioning é uma plataforma em desenvolvimento para a geração de inteligência sobre tecnologia emergente e suas consequências no mundo. Isso é feito por meio de especialistas, análises e inteligência matemática. Os dados são compilados em tempo real e compartilhados com os parceiros da plataforma.
Uma equipe fixa de aproximadamente 10 pessoas da Envisioning é contactada por um órgão público ou empresa particular, que pede algum tipo de insight ou visão sobre a indústria em que trabalham. A Envisioning envia esse pedido para alguns de seus especialistas selecionados pela equipe e, a partir da análise de dados, modelos matemáticos e pesquisa metodológica, fornece sua leitura para o setor por meio de uma visualização dinâmica e bastante explicativa.
Segundo Michell, a plataforma é um software, um banco de dados online, no qual há um processo metodológico para cadastrar novas tecnologias. Ainda ficou confuso? Dá para entender melhor vendo esse projeto público chamado ZeroHunger, que procura transformar drasticamente a forma com que cultivamos, negociamos, consumimos e ordenamos a comida a partir da tecnologia.
O que aprendemos com um modelo de trabalho nascido e criado na tecnologia
O que mais me chamou atenção na conversa com o Michell foi o formato de trabalho da Envisioning, uma empresa virtual mais ágil e correspondente com o que ela faz. Rompendo com os modelos de trabalho tradicionais, Zappa e a equipe moldaram a empresa voltada para o futuro.
Tudo funciona online. Os colaboradores trabalham remotos de todo lugar do mundo e são acionados quando existe algum projeto em andamento. Eles se comunicam por meio de ferramentas como o Basecamp e Zoom e se organizam pelo Trello, Google Drive e WorkFlowy. E isso tem funcionado muito bem!
A ideia é que, futuramente, as dificuldades do trabalho a distância sejam minimizadas com ajuda da plataforma. Hoje, com o software ainda em construção, existem algumas imprevisibilidades no trabalho, o que torna o desafio ainda maior dentro desse modelo. O plano é que com o tempo seja possível que novos pesquisadores se registrem na plataforma e que participem de forma mais ativa, com mais efetividade e agilidade nas respostas dos envolvidos nos projetos, reduzindo drasticamente ruídos de comunicação.
O que fica claro é que para trabalhar com tecnologia é preciso mergulhar de corpo inteiro nela, e as empresas que estão nascendo hoje ainda tem muito caminho para trilhar nesse sentido.
A base para trabalhar com tecnologia está na resolução de problemas
Fundamentalmente, Michell me falou que é preciso existir um problema que uma organização tenha e que possa ser resolvido com a tecnologia. Ter uma ideia clara do que se quer fazer, resolver problemas reais. Esse é o significado do ditado em inglês scratch your own itch.
O trabalho da Envisioning começou quando Michell teve o desejo de organizar suas ideias e as tecnologias que já vinha pesquisando de forma visual e viu nisso mais do que uma possibilidade, uma necessidade. Para que isso seja possível, ele destaca como é essencial saber se comunicar claramente, especialmente em um modelo de trabalho online, além de saber dosar entre o tempo focado, trabalhando sozinho, quieto, e o tempo compartilhado, onde nascem as ideias em conjunto.